terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ano 4 . Nº 48 . Janeiro 2009

Glenda Way

Perdição

Sussurros perdidos, destinos quebrados
Em uma noite vaga eu vago
E nesta floresta de árvores mortas
Cercada pelo pesar da verdade
Eu me rendo
Com nada além de arrependimento nas mãos.
Perdi o meu mundo
Vítima da obscuridade
Guiada por uma estrada errada
Sem pena, sem dó, sem perdão
O sofrimento que cabia a nós
Se acabou
Não sinto nada, nem mesmo a dor da solidão.
A vida me ordena que lute
Mas acredito ser tarde demais
No instante da morte não existe voltar atrás
Em sua frente eu despenco
Mergulho num poço de realidade
Da onde, aprisionada,
Lhe direi adeus


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Brenda Nurmi

Como posso

Como posso eu quer-te só pra mim?

Como posso eu amar-te tanto assim?

Sabendo que é errado, que é pecado.

Sabendo que é insano este amor leviano...

Como vou poder então...

Olhar-te sem desejar ao teu lado estar,

Beijar-te apenas a face, sem teus lábios tocar,

Sentir teu cheiro e não correr pra te abraçar...

Tu já és minha obsessão,

Meu vicio e minha razão!

Juro por Deus que nunca pensei amar assim,

Um ser humano igual a ti,

Que és assim igual a mim...

Tu és fruto tropical feito só pra me agradar,

Programado pra me provocar.

Aguça os meus sentidos,

Meus desejos mais profundos...

Minha vontade dispara,

Corro pro teus braços...

Alucinada pela paixão

Que me toma sem compaixão...

Vem... Sou tua...


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João Correia

Sou a mortalha de quem fui

Num longínquo passado

Que quero deixar enterrado

Sem uma vela, nem resquícios de luz!

Sou um substrato dum passado

Onde o carbono era mais rijo

E o carvão fazia parte de minha constituição

Assim como hoje faz minha mão.

Não lembro daqueles tempos

Pelo menos finjo que deles me esqueci

Mas no subconsciente de meu sonhos

Vejo coisas que nesta vida nunca vi,

Ouço vozes que me soam familiares,

Vozes que nunca ouvi e não sei distinguir!

Hoje sou filho de mim mesmo

Em meu proscrito passado

Onde fui tudo, de assassino

A reles soldado.

Hoje também sou pai de mim mesmo

Em uma eterna gestação

Onde metamorfoseio-me

Para que num futuro

Quando eu irromper de meu casulo

Eu possa viver sem a aflição

De ser “humano, demasiado humano”

Este conflitante ser de mil facetas

Que não passa de poeira de cometas,

Este ser em eterna gestação!


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Lady Kha
 
Anjo da Noite 
 
Neblina baixa, não o encontro
Frio intenso, cadê você
Escuro profundo, procuro você
Chuva forte, vento forte
Raios frustrantes, preocupação profunda
Estava olha pela a janela do quarto escuro e perturbado, meus olhos
lacrimejavam
Quando lhe vi como um anjo, um anjo da noite...
Apaixonada fiquei, confusa também
Será você um anjo, ou uma pessoa como eu?
Mas meu amor por você superaria todos e tudo
Se até por vampiros e lobisomens já havia gostado,
Por que não por um anjo...
Um anjo da noite!


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Tânia Gomes da Rocha
 
Guerras
 
Rompam-se os véus da paz,
Porque hoje tanto faz,
se há guerra ou não.
Há uma dor tão profunda, há fome de ilusão.
Refugiados de lugares distantes,
Quebrem-se os diamantes,
E dissipem-se como pó,
Porque agora isso é só,
Somente o que podemos fazer.
Gritos na noite escura, medo de adormecer.
Fiquem em prontidão, com sua espada na mão,
e a alma desembainhada.
Para que se dominem as flores, 
e elas não representem mais nada.
Rompam-se e rasguem-se os céus, 
com a dor do coração mais prudente,
e na fúria estúpida ardente, dos que a ousaram despertar.
Sentimentos imprevisíveis, que não se poderão dominar.
O meu mundo já não mais te pertence,
e é bom que você pense,
que pode me controlar.
Na verdade há uma batalha travada,
e o meu orgulho é o fio da espada,
em que te verei agonizar.


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Jennifer Souza da Silva


Cry... in the shadows


Estamos perdidos no mundo

Estamos perdidos nas sombras do mundo...

Tente sentir isso, a estranha força da solidão...

Queimar por dentro todo o ódio...

Não conseguir achar um caminho...

E sumir entre as lágrimas de seu corpo...

Estamos perdidos no mundo...

O que sentimos, afinal, senão agonia?

Não poder caminhar por entre os caminhos do destino...

Sem luz pra guiar nossos passos...

Sem forças pra ter um destino...

Estamos perdidos no mundo...

Há algo no ar que me abraça...

Há algo nas sombras que envolvem-me...

Há algo em seus olhos que me seduz...

E tudo que me fazia viver foi-se embora...

Com o vento...

Estamos perdidos no mundo

Estamos perdidos nas sombras do mundo...


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Marcüs Beaumont


Elara (soneto 8)

Gritos soam como guitarras distorcidas
Atravessando as nuvens como luz
Caindo ao solo, incandescente cruz
Como chuva cai o sangue de almas perdidas

Catedrais em ruínas, em chamas
Icarus caído, anjo em missão
De vingança, ódio sem coração
Diante da destruição que se inflama

Elara rasga os céus
Vertendo tristeza com as asas
Espirrando ranço como cutelo

Deixando em pedaços réus
Julgados culpados em brasas
Aspergindo com espadas, esmagados em martelos.