terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Ano 4 . Nº 49 . Fevereiro 2009

Coisas que nunca vou dizer

Taty Ruiz

Me sinto vazia.
As palavras simplesmente se agarram a mim

como se fosse um crime derramá-las.
Pra onde você foi? Sinto que não posso recuperá-lo.
Se foi seu cheiro, seu gosto, a voz macia
Se foram todas essas coisas e não me canso de buscá-las
Pra mim é importante quando você está comigo,

mas sinto que não posso mais alcançá-lo.
Dói terrivelmente ouvir palavras ásperas vindas de boca tão doce
Saber que a qualquer momento tudo que temos pode virar apenas mais uma folha no vento outonal a voar pelo desconhecido
O que será que está tão errado em mim?

Não vê nos meus olhos o que realmente há em meu coração?
A lágrima amarga que agora vem,

marca profunda e intensamente minha alma como se de fogo fosse
Preciso de você mais que qualquer ser precisa de ar pra respirar,

não entendo como pode insistir em algo que não tem sentido.
Juro que não sei o que fiz para receber esse olhar de tristeza e desaprovação
Sei que faço muita besteira, mas tento acertar.
Só queria uma vez na vida ser perfeita pra você,

só queria que você me entendesse e perdoasse.
Muitas vezes tropeço, caio, sou ridícula, sem sentido...
Mas o orgulho é uma chaga maldita

que nos impede de pedir perdão e poder consertar
Sei que muita coisa se resolveria se a gente simplesmente abrisse o coração e falasse
Mas você sabe que não sou assim, tenho uma armadura, uma carapaça, um poço de orgulho e medo, e infelizmente tem tudo isso que pra sempre irei levar comigo.

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Elara (soneto 9)


Marcüs Beaulmont


Batia o coração como martelo na ferida
E a dor enamorada da morte cantava
Lírica e voraz, orgulhosa, imolava
Dentro da realidade de liberdade arrependida

Demônios invadiram os Jardins Suspensos
Decapitando imagens santas de ouro
Lágrimas do céu...triste tesouro
Legiões dilaceravam arcanjos imensos

Como granizo caia o furor maldito
Chuva ácida cortante e cruel
Corroendo fibras de coragem cega

O inferno se abre em evocação e rito
Em chamas de caos os campos do céu
Estéreis, a vida se lhe renega...

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Hora da Noite

Glenda Way

Noite sem Lua
Parceira eterna de meus atos
Companheira sombria dos fatos
senhora calada, fria e nua.
Com teus braços frios a me levar,
Vaguei a procura de outro alguém
De lado a lado, de bar em bar
sozinho comigo e mais ninguém.
Foi num sonho que pude te ver
Senhora envolta nas brumas andava
Chamei por teu nome mesmo sem saber
que te conhecia, já te amava.
Foram passados tempos, meses ou dias
Sempre te procurando nas noites frias
me aprisionando no teu amor
feito de sonhos, frio e dor.

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À Sanidade...

Pablo Augusto

Consome em mim o desejo
Derrama tua vida vermelha
Sobre minha vida velha
Cala-me em um mórbido beijo.

Açoita-me o ego, coitado,
Pois ele só enxerga vaidade
Em meu âmago, tola verdade,
É só o que tenho criado.

Escarra minha boca seca!
Quero o gosto de tua raiva
Como beija-flor a beber seiva.

Põe em mim o pior de te
A consumir minha felicidade,
Caminho obstruído a minha sanidade...

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Cerrando los ojos

Aimée Lejeune

Te visto con la mirada que hasta hace poco emprendía
por rumbos y fantasías ajenos a tu permiso
que intrusa y sin previo aviso por tus rincones andaba
volaba mordía besaba donde le produjo y quiso
Te visto con la mirada para que mires mis ojos
y en ellos no haya el destello de cuánto te imaginaban
ni curven hacia tus curvas ni emprendan en otro antojo
de verte más que los ojos hasta dejarte sin nada
Desnuda sin nada encima te vuelvo a mirar distante
y tu sin saber caminas como si fueses vestida
mas quieras o no, mi vida, sin serlo has sido mi amante
Y yo del deseo errante navego hacia la deriva
por ríos que me proponen en otro mar olvidarte
mas siempre vuelvo a tu orilla donde naufraga mi vida
Dos amantes cruzan miradas por una calle cualquiera

por un súbito segundo Al mismo tiempo miran

en distintas direcciones como si no se hubiesen

percatado jamás de la presencia del otro
Irónico más allá de la historia que llevan escrita

tienen el amor como un nudo en la garganta la mirada

fingiendo no haber visto aquello que ve aún cerrando los ojos
Ni río sin que mis lágrimas corran dentro
ni puedo respirar sin que duela el alma
no logro convertir la tormenta en calma
ni puedo soportar lo que ahora siento
Difícil es vivir cuando muere al alba
casi antes de nacer algún día nuevo
difícil no morir en la madrugada
ante las puñaladas de los recuerdos
Aquí sólo me siento cual me he sentido
ya tantas otra veces que me han herido
mas me pregunto ahora si estoy vivo.