sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ano 5 . Nº 60 . Janeiro 2010

FACETAS
Suelen Romancini

Irei afagar suas veias quentes.
Emaranhar seu sussurro inverso.
Dar-lhe o sopro ao vento de vertigens.
Correrei com meus dedos pela fina superfície de sua derme,
fria e desconcertante.
Recitarei o silêncio no caos de sua mente montanhosa.
Jogando o talvez em seus cantos escuros.
condensando teu corpo em condenadas sinfonias.
Maestro, tão somente polido teu lampejar.
Nas camadas mal distribuídas de minhas facetas,
o grito entorpecente.
Incômodo restringido ao vão buraco.
Depreciou pelo tempo suas histórias.
Os vales se tornaram cinza e carnificina.
A torrente de gelo se desfez.
Compelido o perolado em fosco marfim.
A nudez de seus vestígios, memórias tão bem conservadas.
Ossos quebrados se indo ao movimento do rio.
O oceano em sua solidão insanamente preenchido de sons azuis.
E o vácuo! Inundei-me e me desfiz na imensidão de palavras tão soltas.
Eram os restos que aninhava desesperadamente.
Era o diálogo mudo e a falta do início compreensível, mas lastimável.
*****

ESVAIR
Pedro H. Florêncio

É quando tudo em que acreditamos se esvai
Nossas crenças são levadas à extinção
Toda a energia de nosso corpo sai
E a raiva da mente foge da prisão
É quando tudo o que fazemos falha
E não há um suporte para nos amparar
Tudo em que apostamos fora só fogo de palha
E é muito triste ver tudo isso terminar
É quando nada do que temos tem valor
Quando perdemos a graça de falar, ler
Quando tudo que nos resta é apenas dor
É quando perdemos até a vontade de viver.
*****

'' CONFISSÃO”
Brenda Nurmi

Talvez eu seja a verdadeira escuridão,
Trazendo a dor e a agonia para o meu mundo...
Debulhando-me em lágrimas,
Sofrendo nas profundezas de minha alma
Vivendo minha triste e pura solidão...
Eu escolhi este destino,
Eu acreditei no mais lindo sonho que já sonhei,
Foi tudo tão sublime, tão perfeito,
Foram tantas esperanças, tantas vontades ainda não saciadas...
A ilusão me dominou e eu se quer percebi...
Onde esta você?
Por que sempre te vejo tão longe de mim?
O que realmente quer me dizer quando olha em meus olhos?
Pra onde anseias me levar?
Qual é o teu desejo?...
Se eu ao menos fosse digna de resposta...
Se meu alvo recusasse a se calar...
Eis que tenho uma força repentina
Uma luz que vem, me ilumina e some.
Deixando apenas a cede de não mais viver em um mundo de sombras...
Mundo, mundo,
Vasto mundo.
Um dia me disseram o tamanho de tua vastidão
E na estupidez de uma vida quase perfeita, ignorei...
Você me da algo que eu não tinha,
Mas de que serve sem a certeza?
Meu coração está preso novamente
É real a dor que sinto
Eu confio e confesso...
Não sei o que é, mas posso jurar que é real...
*****

SINE DIE
Marcüs Beaulmont

Sem dia, hora, momento exato
Encontrarás a flor, o cravo intacto
Assim como resto de terra de impacto
Não me verás como relato
Como um maestro tocando piano na chuva
Lendo pautas afogadas em lágrimas
Sentindo as cordas soarem já turvas
E o metal desafinar nas secas paginas
Como cavaleiro que salta do penhasco
Montado em seu cavalo sem medo
Buscando no sacrifício sua redenção
Como o mago dos dias vê seu fiasco
Quando seus bonecos de vudu revelam segredos
Quebrando algemas para amar sem restrição.