terça-feira, 9 de junho de 2009

Ano 4 . Nº 53 . Junho 2009

Eu quero ser um instante

Mozileide Neri


Dá-me tua mão insólita

acaricia minha cor mais distante

abraça-me, não me deixa ir embora.

Sussurra palavras imaginárias

não me deixa no silêncio.

Eu quero ser um instante

uma tarde de outono

uma lembrança qualquer.

Quero ser o número zero

um reflexo de qualquer coisa

um espelho ao contrário

quero ser a perspectiva da Loucura.

Quero [Desejo] Ser aquela imagem sem lógica.


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Elara (soneto 13)

Marcüs Beaumont


Ponteiras de aço divino
Atravessando a morte encarnada
Em anjo caído, que não sente nada
Além do ódio que é corroído

Icarus seus dentes assassinos
Asas queimadas, tatuagens negras
Vertem infecção e dor, trevas
Condenações em volta sem destinos

Como máquina guiada e insana
Alimentada pela revolta seqüestrada
Contar a vontade, rendido em fraqueza

Elara deve morrer sem fama
Sem braços, pernas e decapitada
Seguindo a ordem das profundezas...


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>Sem Título<

João Correia


Sou a mortalha de quem fui

Num longínquo passado

Que quero deixar enterrado

Sem uma vela, nem resquícios de luz!

Sou um substrato dum passado

Onde o carbono era mais rijo

E o carvão fazia parte de minha constituição

Assim como hoje faz minha mão.

Não lembro daqueles tempos

Pelo menos finjo que deles me esqueci

Mas no subconsciente de meu sonhos

Vejo coisas que nesta vida nunca vi,

Ouço vozes que me soam familiares,

Vozes que nunca ouvi e não sei distinguir!

Hoje sou filho de mim mesmo

Em meu proscrito passado

Onde fui tudo, de assassino

A reles soldado.

Hoje também sou pai de mim mesmo

Em uma eterna gestação

Onde metamorfoseio-me

Para que num futuro

Quando eu irromper de meu casulo

Eu possa viver sem a aflição

De ser “humano, demasiado humano”

Este conflitante ser de mil facetas

Que não passa de poeira de cometas,

Este ser em eterna gestação!


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Obscuridade

Glenda Way


Obscuridade,
Obscuridade que não me leva a nada!
Obscuridade que esconde quem eu realmente quero ser.
Obscuridade que afasta,
Obscuridade que machuca.
Obscuridade que dói.
Obscuridade que destrói.
Obscuridade que eu não quero ter.
Obscuridade que os outros querem ver.
Obscuridade, maldita obscuridade,
sem sorrisos, sem risadas, sem brincadeiras...
Vivo com a inveja, somos companheiras uma da outra.
A tristeza é outra grande amiga minha,
para onde eu vou, ela me acompanha,
somos inseparáveis...
A única esperança que eu tinha,
de um encontro com a felicidade,
saltou pela janela, foi a esperança que a jogou,
fugiu e me deixou junto a tristeza e a depressão a me abraçar.
Éramos nós três no trem da vida.
Elas continuarão me fazendo companhia

enquanto eu não escolher se quero continuar vivendo morta

ou morrer viva...


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Riso com gosto de desespero

Bruna Barreto


Menino de corpo frágil

de olhos de ontem

riso sereno

com gosto de desespero.

Cabelos tingidos de roxo

Olhos vermelhos de sono

O fantasmagórico do teu mundo me fascina.

Menino que eu queria pra mim.

Um minuto de espera

e posso sentir você me olhando

me vendo às escondidas.

Cabelos tingidos por mim

Olhos vermelhos de mim

O irreal do teu mundo sou eu.


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Inclinar-se

Carol_gótica


Ao som do piano frio

ao leve e lírico entardece

eu me esgotei

larguei sem vestígios meus fios de silêncio.

Cobri sem força minha coragem de covardia

joguei fora minha vontade

e me inclinei

como quem se joga para o fim do precipício.

Eu me esvaziei,

gritei, sem razão para me salvar.

Larguei-me como quem se despede de alguém valioso.

Eu desisti,

Inclinei-me para cair no esquecimento:

primeiro veio o clarão depois a escuridão.

Quem me perdoará?