quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ano 4 . N° 46 . Novembro 2008



Silêncios profundos

Juliana Amaral


Angustio-me

não me chamo

mas descarrego devaneios,

sonhos,

medos,

poesias,

silêncios profundos.

Tenho a poesia

arrancada da pele

tenho navalha no verso.

Como posso então

atingir o visível

se tenho a liberdade

presa a labirintos?

Como se movesse do nada

para atingir

silêncios em mim

eu abro a pele

para libertar poesias.

Angustio-me

não me contenho

escrevo gritos,

delírios,

lágrimas

por debaixo da pele.



Versos antropológicos

Sed_dark


Minha poesia é como uma vértebra humana

E se eu versejar

ou deteriorar a poética

perdoem-me.

Minhas estrofes estão encharcadas de sangue

porque minha alma não aceita cicatrizes,

por amor

por amar demasiadamente.

Recuso-me a escrever sobre ela,

recuso-me a manchar meus versos de saudade,

uma saudade que me causaria suicídio;

que me causa desespero.

Minha sombra não tem métrica

não tem forma

só tem sonhos

que não ouso lapidar

porque tenho medo de pôr sobre a minha alma

pedaços de fantasia,

mas a tua ausência

os farão apodrecer

como as perfurações que tenho na alma.



Melancolia

Emily Martin


Enterro no infinito

Palavras defuntas de amor.

Vazo a verdade

Vinda de perto

Trazendo consigo

Prelúdios de dores terríveis.

Meus olhos transbordam melancolia,

Trazem de volta o sofrimento perdido.

Cravo na água meus devaneios

solto-me da janela

Jogando fora meu silêncio,

Meu vazio,

E meus segredos.



Solidão

Shekinah Silva


Miragens rústicas

Solidão rasgada

Vida submersa por gritos sombrios.

Passos à noite

Caminhando para o infinito

Onde só há sonhos falecidos.

Solidão pisada

Por pés cansados de viver

Sempre no mesmo dia

Na mesma noite.

Solidão manchada

Por lágrimas intermináveis

Por medos que nunca vão embora.



Corrimão

Charlote Bentancur


Desço degraus

Com os pés vendados

Desço degraus

Sem saber o que encontrarei no final

Desço degraus

De uma escada móvel

Desço degraus

Segurando o corrimão

Desço degraus

Deixando um rastro de sangue

Desço

Apenas

Sem saber subir

Sem saber voltar

Desço degraus

Para corrigir um erro

Para resgatar minha alma

Que deixei flutuando

Dentro de pequeníssimos soluços

Fosforescentes.



Sóis

Waislin


Eu vou pegar esses lençóis

Pra colocar nesses anzóis

Essa saudade de girassóis

Vi mil repletos sóis

A galáxia, a poeira

Tudo em volta de nós

Agüento as estrelas

O rei dos sóis

Estava lá flutuando

Na gravidade sem quimera

Apenas em fase mera

A terra com girassóis

Cheirosos como meles

Ficando agudo neles

Nos planetas cada qual

Com seus segredos

Enquanto eu honro

Cultuo meu sol....



Elara (soneto 3)
Marcüs Beaulmont


A colina das cruzes distorcidas
Era fria sob nevasca de inverno
Obtusa e atordoante como se do inferno
Fosse prólogo e ante sala esquecida

Seus olhos percorriam lacrimosos
E descansaram no tumulo cinzento
Do seu anjo falecido, e seu esquecimento
Reavivara o ódio pelos deuses formosos

Inflamara suas asas ufanas
Talhando seus pulsos, como desafio,
Com pedaços de metal sem fio

Proferiu suas orações profanas
Ajoelhada, mente em desvario
Nua e sedenta, com sangue frio...



Concerto
Ni [Morten]


Dedilhar calmo e preciso.
As teclas do piano desatando
da Ilusão as cordas
A noite sôfrega caindo
no silêncio entre as notas
Entrelaçando sonhos
a corriqueiros pensamentos
Desfilando imponente vai à musa solitária,
Imaginários corredores e passagens
a conduzir a estranha ouvinte
à câmara das lúdicas cores, sons, sabores...
Onde a beleza se aprimora, e séria descortina
sua presença excêntrica, camuflada na rotina
Onde o que é nosso está contido
sonoro espelho refletindo... máscaras
prazer e dor tão escondidos.
Ouça Deusa!... Os sentimentos tão humanos!
- a teus encantos tão sujeitos -
Que nos faz plenos ou insanos
Ser instrumentos imperfeitos: ensaios rudes
da perfeição imaginada
A nós, Senhora, trazes
o cântaro de alívios e segredos..
Que és Música?
Senão do Tédio o algoz horrendo
O bálsamo inigualável do Tormento.
Estrela abissal, afugentando Medos!



Ao que não se pode nominar

Karla Oldane


A alma aflita

corre

paira

fita

Com o peso no peito

dor

pecado

despeito

Incomoda a carne

queima

arde

arte

De uma forma inominável

inteligível

intransigente

intragável.



Desprenderse

Celso Piñón


Tú ya no eres el mismo que fuiste hace dos días,

Hace tres meses, hace un año.

Por lo tanto, no hay nada a qué volver.

Cierra la puerta, da vuelta a la hoja, cierra el círculo.

Ni tú serás el mismo, ni el entorno al que regresas será igual,

Porque en la vida nada se queda quieto, nada es estático.

Es salud mental, amor por ti mismo,

Desprender lo que ya no está en tu vida.

Recuerda que nada ni nadie es indispensable.

Ni una persona, ni un lugar, ni un trabajo.

Nada es vital para vivir

porque cuando tú viniste a este mundo,

Llegaste sin ese adhesivo.

Por lo tanto, es costumbre vivir pegado a él,

Y es un trabajo personal aprender a vivir sin él,

Sin el adhesivo humano o físico que hoy te duele dejar ir.

Es un proceso de aprender a desprenderse y,

Humanamente se puede lograr, porque te repito:

Nada ni nadie nos es indispensable.

Sólo es costumbre, apego, necesidad.

Pero cierra, clausura, limpia, tira, oxigena,

Despréndete, sacúdete, suéltate.

Hay muchas palabras para significar salud mental y cualquiera

Que sea la que escojas,

Te ayudará definitivamente a seguir para adelante con tranquilidad.

¡Esa es la vida!