sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ano 5 . Nº 61 . Fevereiro 2010

Juliana Amaral
TÉDIO

Sobre brasas de amargura,
sobre navalhas não mais afiadas,
eu, somente eu, me submeto ao tédio.
Revestia inutilmente meus dias com alegrias contidas de ontem,
costurava silêncio sobre os lábios.
Tentava ser uma teia de ilusão,
queria ser um instante de qualquer lembrança.
Sobre amores inúteis,
sobre poesias velhas,
eu, somente eu, me submetia ao tédio.
Dançava fora do ritmo,
sorria sem vontade,
chorava por distração.
Sobre mãos rígidas,
sobre olhos avermelhados,
eu, somente eu, me escondia do tédio diário.
*****

Suelen Romancini
LAPSO

Ela estava seca, o corpo gelado.
O que havia de sangue esvaeceu.
Eram pupilas escuras, seus olhos.
Enraizou as unhas entre a carne esperada.
De lábios desérticos, roupas em águas.
O contorno do queixo movia por sobre as extremidades dos ombros.
Braços firmes e pernas enlaçadas.
Desprendia-se em suor.
A ordem dos fios se ia, misturava e eclodia.
O cheiro lhe ardia os sentidos e confundia suas regras ou razões.
Morriam seus limites eles desciam por suas vertentes.
*****

Tânia Bueno Rocha
ALGOZ

Medos e verdades escondidas,
no profundo de cada olhar.
Ao notar que poderão ser despidas,
mais ainda se fazem ocultar.

Medos e forças estranhas,
que nunca se poderão confessar.
Em busca de uma felicidade tamanha,
colocam-se na alma dançar.

Como um algoz tortura sua presa,
o medo e a solidão.
Aprisionam a sociedade indefesa,
que se escondem a baixo do chão.

E pra onde se pode fugir,
se o carrasco está em todo lugar.
Verdades ainda vão persistir,
em perigos nos acorrentar.

Medos e verdades obscuras,
que os olhos mortais não verão.
Sinceramente procuram,
refúgios da solidão.
E quanto mais tudo muda,
o medo ainda está.
Dentro da alma mais pura.
E seu espírito a dominar.

Como poso então me livrar,
do medo que se apoderou?
Das minhas palavras ao ar,
que ninguém jamais escutou.
*****

Marcüs Beaulmont
RATIO ESSENDI
Do horizonte lilás de imaginação
Floresceu uma revoada de sonhos
Devaneios inquietos e tristonhos
De saudade esquecida da paixão
Como montanha imóvel aguarda
Plantada na memória.. imóvel e só
Esse grito quer desfazer um nó
Que na garganta jaz e resguarda
Existe, creio eu, motivo plausível
Para existência tal de sentimentos
Além desse inominável momento
Talvez a espera do impossível
Dentro do peito resgatado esteja
O sonho que ao amor corteja
*****

Brenda Nurmi
LÁGRIMAS MÓRBIDAS

Na janela há alguém olhando para a lua,
Lágrimas mórbidas em um anoitecer cinzento...
Sorrisos falsos, tentando esconder a tristeza.
Um único ser solitário, que grita em silêncio.
Na noite fria e sem vida,
Quando todos já adormecem...
Lembranças que vem e que vão,
Saudade que chama e o peito que chora...
O coração sofre calado...
Luzes iluminam a estrada,
Os carros passam correndo...
As esperanças se perderam,
Só lhe resta o sofrimento...