sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ano 5 . Nº 58 . Novembro 2009 – Edição de Aniversário

[RR Junho 2009 – 57 votos]

Inclinar-se

Carol_gótica


Ao som do piano frio

ao leve e lírico entardece

eu me esgotei

larguei sem vestígios meus fios de silêncio.

Cobri, sem força, minha coragem de covardia

joguei fora minha vontade

e me inclinei,

como quem se joga para o fim do precipício.

Eu me esvaziei,

gritei, sem razão para me salvar.

Larguei-me como quem se despede de alguém valioso.

Eu desisti,

Inclinei-me para cair no esquecimento:

primeiro veio o clarão depois a escuridão.

Quem me perdoará?


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[RR Março 2009 – 54 votos]

Silêncio coberto de vermelho

Juliana Amaral


Gritos, lágrimas, medos

por onde recomeçar?

Sonhos, lembranças, tragédias

Por que recuar?

Paredes machadas de verdades sigilosas,

corredores silenciosos.

Pulso aberto escorrendo covardia.

Existência vazia

procurando o indizível.

Vida aprisionada

a um vermelho silencioso.

Alma coberta de vermelho.


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[RR Janeiro 2009 – 40 votos]

Jennifer Souza da Silva

Cry... in the shadows


Estamos perdidos no mundo

Estamos perdidos nas sombras do mundo...

Tente sentir isso, a estranha força da solidão...

Queimar por dentro todo o ódio...

Não conseguir achar um caminho...

E sumir entre as lágrimas de seu corpo...

Estamos perdidos no mundo...

O que sentimos, afinal, senão agonia?

Não poder caminhar por entre os caminhos do destino...

Sem luz pra guiar nossos passos...

Sem forças pra ter um destino...

Estamos perdidos no mundo...

Há algo no ar que me abraça...

Há algo nas sombras que envolvem-me...

Há algo em seus olhos que me seduz...

E tudo que me fazia viver foi-se embora...

Com o vento...

Estamos perdidos no mundo

Estamos perdidos nas sombras do mundo...


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[RR Fevereiro 2009 – 38 votos]

Elara (soneto 9)

Marcüs Beaulmont


Batia o coração como martelo na ferida
E a dor enamorada da morte cantava
Lírica e voraz, orgulhosa, imolava
Dentro da realidade de liberdade arrependida

Demônios invadiram os Jardins Suspensos
Decapitando imagens santas de ouro
Lágrimas do céu...triste tesouro
Legiões dilaceravam arcanjos imensos

Como granizo caia o furor maldito
Chuva ácida cortante e cruel
Corroendo fibras de coragem cega

O inferno se abre em evocação e rito
Em chamas de caos os campos do céu
Estéreis, a vida se lhe renega...

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[RR Março 2009 – 35 votos]

A terça parte do infinito

Mozileide Neri


O vento da janela de trás
trás consigo a carga
o silêncio em brasa
a casa vazia de tudo
e cheia do nada
o nada que restou, agora é cinza
poeira sobre os vidros cegos.
O vento da Janela de trás
e eu o senti, como uma brisa
acariciando meu rosto
torto, prestes a cair.


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[RR Fevereiro 2009 – 34 votos]

Cerrando los ojos

Aimée Lejeune


Te visto con la mirada que hasta hace poco emprendía
por rumbos y fantasías ajenos a tu permiso
que intrusa y sin previo aviso por tus rincones andaba
volaba mordía besaba donde le produjo y quiso
Te visto con la mirada para que mires mis ojos
y en ellos no haya el destello de cuánto te imaginaban
ni curven hacia tus curvas ni emprendan en otro antojo
de verte más que los ojos hasta dejarte sin nada
Desnuda sin nada encima te vuelvo a mirar distante
y tu sin saber caminas como si fueses vestida
mas quieras o no, mi vida, sin serlo has sido mi amante
Y yo del deseo errante navego hacia la deriva
por ríos que me proponen en otro mar olvidarte
mas siempre vuelvo a tu orilla donde naufraga mi vida
Dos amantes cruzan miradas por una calle cualquiera

por un súbito segundo Al mismo tiempo miran

en distintas direcciones como si no se hubiesen

percatado jamás de la presencia del otro
Irónico más allá de la historia que llevan escrita

tienen el amor como un nudo en la garganta la mirada

fingiendo no haber visto aquello que ve aún cerrando los ojos
Ni río sin que mis lágrimas corran dentro
ni puedo respirar sin que duela el alma
no logro convertir la tormenta en calma
ni puedo soportar lo que ahora siento
Difícil es vivir cuando muere al alba
casi antes de nacer algún día nuevo
difícil no morir en la madrugada
ante las puñaladas de los recuerdos
Aquí sólo me siento cual me he sentido
ya tantas otra veces que me han herido
mas me pregunto ahora si estoy vivo.


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[RR Outubro 2009 – 29 votos]

Brenda Nurmi

Estar com você


Dois mundos completamente diferentes

Duas vidas que se atraem e não sabem explicar

A força de um olhar triste e profundo

Que me toca sem notar, sem pensar...

Sabe, pode ser muito cedo,

mas já é tarde de mais pra te esquecer...

Eu quero estar com você

Ser a única que está em seus braços...

Olhar pra lua e ter certeza de que é

A mesma lua que te ilumina...

São tantas coisas na minha mente

E eu não sei o que realmente eu devo te dizer...

Eu nunca me senti desse jeito antes,

Eu nunca tive ninguém como você

E nunca me senti tão certa do que faço...

Ta sendo mais do que uma simples paixão

Não tem nada melhor do que estar do teu lado

Sei que poço me machucar,

Mas se não te dizer o que sinto

Que importância fará tudo isso guardado dentro de mim?


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[RR Agosto 2009 – 28 votos]

The Books

Glenda Way Kaulitz

Os livros são os únicos que não irão trair-te.
São os únicos que te ouvem em silêncio,
São os que acolhem tuas lágrimas,
e que pouco a pouco, dão sentido a tua vida sem graça.
Quando você mergulha dentro de uma boa história,
Consegue esquecer do quão ruim anda tua vida.
Não és mais que um poeta solitário.
Nadando em versos mudos costurados.
Nada mais és que tinta sem tela,
Que uma folha de papel sem a caneta,
Nada mais és que um quarto vazio,
de um futuro sombrio.
Mergulha e agarra-te naquele velho romance,
e vive-o outra vez, outrora, já é hora.
Como você o queria para si.
Mas ele não existe.
A vida se resume em poucas linhas,
e a sua, nem sequer dá um bom livro.
As páginas estão riscadas, rasgadas e amassadas,
repleta se coisas que tu anseias esquecer.
Você é um livro, de capa negra e dura,
a capa, são teus negros olhos,
as palavras duras, são teus fortes traços,
o sofrimento, tuas marcas, o fim, tua morte.

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[RR Outubro 2009 – 25 votos]

Julia Hernández

Mi rostro

Mi rostro en el espejo
piezas del espejo
Existo
vacía fuera y dentro de mí.
Mi rostro en el espejo
suelta la risa de la casa de
casa llena de ruinas
y abrasiones.
I, la imagen del espejo
casa fantasma
riendo de mí.
Detrás de las piezas, un rostro,
Yo de fondo,
el secreto de mí.

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[RR Janeiro 2009 – 19 votos]

João Correia

>SEM TÍTULO<


Sou a mortalha de quem fui

Num longínquo passado

Que quero deixar enterrado

Sem uma vela, nem resquícios de luz!

Sou um substrato dum passado

Onde o carbono era mais rijo

E o carvão fazia parte de minha constituição

Assim como hoje faz minha mão.

Não lembro daqueles tempos

Pelo menos finjo que deles me esqueci

Mas no subconsciente de meu sonhos

Vejo coisas que nesta vida nunca vi,

Ouço vozes que me soam familiares,

Vozes que nunca ouvi e não sei distinguir!

Hoje sou filho de mim mesmo

Em meu proscrito passado

Onde fui tudo, de assassino

A reles soldado.

Hoje também sou pai de mim mesmo

Em uma eterna gestação

Onde metamorfoseio-me

Para que num futuro

Quando eu irromper de meu casulo

Eu possa viver sem a aflição

De ser “humano, demasiado humano”

Este conflitante ser de mil facetas

Que não passa de poeira de cometas,

Este ser em eterna gestação!