terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ano 5 . Nº 67 . Agosto 2010

Suelen Romancini
Intocável
O sorriso inexorável que me demonstrava
pela porta entreaberta
o murmúrio escondido em seus lábios
dê-me suas pesadas memórias, deixe-me definir seu caráter.
Posso cremá-las e soterrar meu miserável desejo.
Levarei o cremado ao interior de minha boca,
deixarei a saliva formar a massa pesada que meu insípido corpo irá findar.
Olhe por um momento em minha podre face.
Flagelado, deitado em uma cama de aço
entorpecidamente minha mão se perde
ao tentar configurar o movimento da sua ao segurá-la.
No entanto, o vácuo me é a resposta.
Seu corpo continua gélido e sem fôlego.
Preciso recompor meus passos,
voltar ao meu vazio mundo e a minha fria rotina.
*****
[G.W.]
Cadavérico riso
Escrevo versos
para serem lidos e não recitados,
escrevo solidão sobre as estrofes
para não serem lembradas amanhã.
Escrevo para libertar as palavras de mim.
E em mim ainda resta
o seu cadavérico riso
vivo e intenso.
Escrevo agora
risadas curtas
sobre os espaços
entre um verso e outro
para esquecer que um dia fui seu.
*****
Nuno Garcia
Nu
Ninguém ao meu lado
nem hoje nem amanhã
e certamente os dias seguintes.
Só. E solidão é palavra longa,
infinita.
Direi ao meu silêncio, constrangido,
que estou nu de qualquer sentimento,
que irei sim morrer...
esquecido.
*****
Mário Trindade
Já acabou
Menina dos olhos meus
menina com abraço estreito,
já acabou o teu luto?
Já não espero esperar tanto.
Menina que me fascina ao longe,
já acabou o teu pranto?
Já procurei alegrias para te dar
mas não consigo carregá-las.
Quantas noites frias
já passaram por mim,
e eu ainda continuo aqui,
te esperando,
já morto de saudade.