domingo, 7 de novembro de 2010

Ano 6 . Nº 70 . Novembro 2010 - Edição de Aniversário

Juliana Amaral
[RR MAI 2010 - 33 votos]
Quando os anjos não choram
Deus, por piedade, dá-me a mão
ergue os meus olhos
cheios de tristeza e insegurança
dá-me um pouco de calma.
Quando eu estiver sozinha
acompanha-me no pranto
na agonia de não saber o que fazer.
Deus, por piedade, dá-me um abraço
porque quando os anjos não choram
uma alma como a minha será feliz.
******
Marcüs Beaulmont
[RR JAN 2010 - 29 votos]
Sine die
Sem dia, hora, momento exato
encontrarás a flor, o cravo intacto
Assim como resto de terra de impacto
não me verás como relato
como um maestro tocando piano na chuva
lendo pautas afogadas em lágrimas
sentindo as cordas soarem já turvas
e o metal desafinar nas secas páginas
como cavaleiro que salta do penhasco
montado em seu cavalo sem medo
buscando no sacrifício sua redenção
como o mago dos dias vê seu fiasco
quando seus bonecos de vudu revelam segredos
quebrando algemas para amar sem restrição.
******
Aimée Lejeune
[RR MAR 2010 - 27 votos]
Yo y nadie
No más gritos
no más temores
justo todo lo que me hace llorar
Quiere que su comodidad?
Su mano abierta
Su abrazo que me saluda
Quieres venir esta noche?
Y la muerte está aquí
en busca de un espacio vacío en mi.
******
Mariano Borges
[RR MAR 2010 - 26 votos]
Sou uma poesia viva
Fragmentos soltos, desmontados,
vontade de voar, de se desprender.
vou colhendo dores,
sussurros alheios, desejos enferrujados.
Tento existir sem causar danos maiores
escrevo versos recheados de segredos.
Sou uma poesia viva
lapidada de acasos.
Sou seu passatempo,
sua menor lembrança,
seu silêncio constante.
Fragmentos soltos, desmontados.
Tento existir sem causar danos maiores a você.
******
Nixy
[RR MAI 2010 - 25 votos]
Instante
Sorrateira em volta de mim
circula amaeçadora
a bolha cotidiana de sensações informes
soando gongos e sinos
Desespero e Angústia tranquilos
marcando dias e horas
observam a esperar
o abraço do Abismo enlaçar
A alma pela tua Ausência atormentada.
Naquele dia me vi encontrar
no fundo dos teus olhos calmos
um instante.
Lampejo de paz
um minuto de ordem universal
qualquer riso infantil
pra sempre calor infernal
Voz grave puxando o Sol, detras
das encostas invernadas, terras assombradas
onde jazia meu ser
e mãos fabricaram sorrisos
e os espalharam todos
pelos caminhos meus
sem você, então
o badalar soluçante
silêncio. Sensação sufocante
Gongos e sinos
ausência constante
Lágrimas. Desatino.
Sem você agora
a tempestade vindo
Eu indo.
******
Júlia Kim
[RR JUN 2010 - 23 votos]
Sobre a verdade escondida
sobre a verdade do nunca.
Do errado. Do surdo poema.
Eu sou a metade do fim.
O medo coerente de Ser.
Sobre a verdade do Possível
Do inesperado. Do confuso verso gótico.
******
Suelem Romancini
[RR FEV 2010 - 20 votos]
Lapso
Ela estava seca, o corpo gelado.
O que havia de sangue esvaeceu.
Eram pupilas escuras, seus olhos.
Enraizou as unhas entre a carne esperada.
De lábios desérticos, roupas em águas.
O contorno do queixo movia por sobre as extremidades dos ombros.
Braços firmes e pernas enlaçadas.
Desprendia-se em suor.
A ordem dos fios se ia, misturava e eclodia.
O cheiro lhe ardia os sentidos e confundia suas regras ou razões.
Morriam seus limites eles desciam por suas vertentes.
******
Mozileide Neri
[RR ABR 2010 - 19 votos]
Lacrado
Há risos sobre a ferrugem de um sonho,
há vidros arranhados por gritos,
de dentro para fora de mim.
Me tornei o lacre de seu silêncio,
me tornei a sua dor interminável.
Hoje sou você à deriva do que ainda não tem nome.
Ainda ouço soluços trancafiados no porão,
sino uma vontade de possuir liberdade [inexistente].
E foi tentado ser exata
que calculei errado a direção certa,
escolhi não ter mais razão
fechei os olhos,
abracei o vazio mais leve e escuro
e não me permiti mais existir.
******
Gabrielle Fonseca
[RR ABR 2010 - 16 votos]
Fúnebre lembrança
Nenhuma palavra pronunciarei
nenhuma imagem deve ser lembrada
nenhuma lágrima aproximará dos meus olhos
ao menos, desejo em devaneio,
ao menos que me digas que fora um sonho.
Ao menos que me digas que fora um engano.
Diz! Olha-me ainda sonolento,
balbucia alguma sílaba viva,
cancela meu desespero.
Diz qeu ainda estás comigo.
******
Bianca Saldanha
[RR JUL 2010 - 12 votos]
Vou-me
Vou-me como quem canta
sem saber a letra ou a melodia.
Vou-me como quem nunca amou na vida.
Sinto-me sempre assim: querendo ir.
Amanhã te conto meu sonho
Amanhã te conto meu segredo
escondido debaixo dos meus pés
Amanhã...
Pois tenho liberdade demais
preciso ir, sempre.

domingo, 3 de outubro de 2010

Ano 5 . Nº 69 . Outubro 2010

Juliana Amaral
Solidão
Ó vida desesperada
de solidão interminável.
Ó lembranças
de tormentos.
Ó coração castigado
por dores e sentimentos.
Ó solidão que não passa
é triste o fim de meus dias
ando sempre chorando.
*****
Nix
Negação
Olhar
enluarado a pleno sol
dissonante ainda
a voz transpassando nítida
finas camadas de alma.
Passos distantes,
de um sonho confuso,
mão enlaçadas impunes
no silencioso instante.
Há dias tenho escondido rimas,
expurgando do meu ser
tua mágica presença.
Há dias invocando o silêncio
bou calar as reticências,
até que nada fique
ou signifique.
*****
Pedro H. Florêncio
Soneto de Reflexão
Às vezes a vida passa adiante
rente aos nossos olhos
é quando nos assustamos de repente
e percebemos que estamos velhos
Em épocas passadas, diríamos que era besteira
que tudo era devagar demais
então, saíamos em festeiras...
São épocas que não voltarão jamais
E se nós, velhos, oferecemos cortesia
somos logo mal vistos pelo público
Público em que estávamos antes
Ficamos, então, com forte azia
querendo sair da selva urbana, ainda pudicos!
Sabemos então o que é envelhecer adiante.
*****
Eliana Motta
Por nada, por ninguém
Simples assim.
Modo de amar fúnebre e caótico,
eu dei vida a sentimentos já exaustos
eu agora reluto, tento não ferir a mim mesma
tento ser, existir sem dor.
Amar sem dor.
Por nada, por ninguém
eu caminho só
vagando entre lembranças
com passos lentos demais.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ano 5 . Nº 68 . Setembro 2010 - Edição Especial: Álvares de Azevedo

Manuel Antônio Álvares de Azevedo, nasceu em São Paulo, 12 de setembro de 1831. Foi contista, dramaturgo, poeta e ensaísta. Faleceu em 25 de abril de 1852 na cidade do Rio de Janeiro.
Poema: 12 DE SETEMBRO
I
O SOL ORIENTAL brilha nas nuvens,
Mais docemente a viração murmura
E mais doce no vale a primavera
Saudosa e juvenil e toda em rosa
Como os ramos sem folhas
Do pessegueiro em flor.
Ergue-te, minha noiva, ó natureza!
Somos nós - eu e tu - acorda e canta
No dia de meus anos!
II
Debalde nos meus sonhos de ventura
Tento alentar minha esperança morta
E volto-me ao porvir.
A minha alma só canta a sepultura -
Nem última ilusão beija e conforta
Meu ardente dormir.
III
Tenho febre - meu cérebro transborda,
Eu morrerei macebo - inda sonhando
Da esperança o fulgor.
Oh! cantemos ainda: a última corda
Treme na lira... morrerei cantando
O meu único amor!
IV
Meu amor foi o sol que madrugava,
O canto matinal da cotovia
E a rosa predileta...
Foi um louco, meu Deus, quando tentava
Descorado e febril nodoar na orgia
Os sonhos de poeta...
V
Meu amor foi e verde laranjeira
Que ao luar orvalhoso entreabre as flores
Melhor que ao meio-dia
As campinas - a lua forasteira,
Que triste, como eu sou, sonhando amores
Se embebe de harmonia. -
VI
Meu amor foi a mãe qeu me alentava,
que viveu e esperou por minha vida,
E pranteia por mim...
E a sombra solitária que eu sonhava
Lânguida como vibração perdida
De roto bandolim...
VII
Eu vaguei pela vida sem conforto,
Esperei o meu anjo noite e dia
E o ideal não veio...
Farto da vida, breve serei morto...
Não poderei ao menos na agonia
Descansar-lhe no seio...
VIII
Passei como Don Juan entre as donzelas,
Suspirei as canções mais doloridas
E ninguém me escutou...
Oh! nunca à virgem flor das faces belas
Sorvi o mel nas longas despedidas...
Meu Deus! ninguém me amou!
IX
Vivi na solidão - odeio o mundo
E no orgulho embucei meu rosto pálido
Como um astro na treva...
Senti a vida um lupanar imundo -
Se acorda o triste profanado, esquálido
- A morte fria o leva...
X
E quantos vivos não caíram frios,
Manchados de embriaguez da orgia em meio,
Nas infâmias do vício!
E quantos morrerão inda sombrios
Sem remorsos dos loucos devaneios...
- Sentindo o precipício!
XI
Perdoa-lhes, meu Deus! o sol da vida
Nas artérias ateia o sangue em lava
E o cérebro varia...
O século na vaga enfurecida
Levou a geração que se acordava...
E nuta de agonia...
XII
São tristes deste século os destinos!
Seiva mortal as flores que despontam
Infecta em seu abrir -
E o cadafalso e a voz dos Girondinos
Não falam mais na glória e não apontam
A aurora do porvir!
XIII
Fora belo talez em pé, de novo
Como Byron surgir, ou na tormenta
O herói de Warteloo
Com sua ideia iluminar um povo,
Como um trovão nas nuvens que rebenta
E o raio derramou!
XIV
Fora belo talvez sentir no crânio
A alma de Goethe, e reunir na fibra
Byron, Homero e Dante;
Sonhar-se num delírio momentâneo
A alma da criação, e o som que vibra
A terra palpitante...
XV
Mas ah! o viajar nos cemitérios
Nessas nuas caveiras não escuta
Vossas almas errantes,
Do estandarte da sombra nos impérios
A morte - como a torpe prostituta -
Não distingue os amantes.
XVI
Eu pobre sonhador - em terra inculta
Onde não fecundou-se uma semente
Convosco dormirei,
E dentre nós a multidão estulta
Não vos distinguirá a fronte ardente
Do crânio que animei...
XVII
Oh! morte! a que mistério me destinas?
Esse átomo de luz que inda me alenta,
Quando o corpo morrer -
Voltará amanhã - aziagas sinas! -
Da terra sobre a face macilenta
A esperar e sofrer?
XVIII
Meu Deus, antes - meu Deus - que uma outra vida,
Com teu sopro eternal meu ser esmaga
E minha alma aniquila...
A estrela de verão no céu perdida
Também às vezes teu alento apaga
Numa noite tranquila!...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ano 5 . Nº 67 . Agosto 2010

Suelen Romancini
Intocável
O sorriso inexorável que me demonstrava
pela porta entreaberta
o murmúrio escondido em seus lábios
dê-me suas pesadas memórias, deixe-me definir seu caráter.
Posso cremá-las e soterrar meu miserável desejo.
Levarei o cremado ao interior de minha boca,
deixarei a saliva formar a massa pesada que meu insípido corpo irá findar.
Olhe por um momento em minha podre face.
Flagelado, deitado em uma cama de aço
entorpecidamente minha mão se perde
ao tentar configurar o movimento da sua ao segurá-la.
No entanto, o vácuo me é a resposta.
Seu corpo continua gélido e sem fôlego.
Preciso recompor meus passos,
voltar ao meu vazio mundo e a minha fria rotina.
*****
[G.W.]
Cadavérico riso
Escrevo versos
para serem lidos e não recitados,
escrevo solidão sobre as estrofes
para não serem lembradas amanhã.
Escrevo para libertar as palavras de mim.
E em mim ainda resta
o seu cadavérico riso
vivo e intenso.
Escrevo agora
risadas curtas
sobre os espaços
entre um verso e outro
para esquecer que um dia fui seu.
*****
Nuno Garcia
Nu
Ninguém ao meu lado
nem hoje nem amanhã
e certamente os dias seguintes.
Só. E solidão é palavra longa,
infinita.
Direi ao meu silêncio, constrangido,
que estou nu de qualquer sentimento,
que irei sim morrer...
esquecido.
*****
Mário Trindade
Já acabou
Menina dos olhos meus
menina com abraço estreito,
já acabou o teu luto?
Já não espero esperar tanto.
Menina que me fascina ao longe,
já acabou o teu pranto?
Já procurei alegrias para te dar
mas não consigo carregá-las.
Quantas noites frias
já passaram por mim,
e eu ainda continuo aqui,
te esperando,
já morto de saudade.

sábado, 3 de julho de 2010

Ano 5 . Nº 66 . Julho 2010

Nixy
(Paraná)
Henrique II
Por olhos de ternura
e solidão findada,
eleva-me ao cimo da loucura
o crepitar do sonho que persiste.
Não aspiro senão os ares
da solitária Noite debruçada
a contemplar meu sono a treva densa,
a resolver em sua bruma, minha mágoa.
Âncora dos dias meus!
Louvor incontido e ocultado...
Me curvarei ao tempo por saber
que essas retinas, amor,
antes de enxergar a Morte,
retratarão teus traços à minh'alma
para que em paz eu possa fenecer.
*****
Maurício B.
(São Paulo)
"Eu te amo"
Não me engnas mais
suas palavras não mais me interessam
estou livre de ti.
Para nunca mais olhar-te,
para nunca mais te amar.
Mantira que escorre pelos meus olhos,
queria ter essa certeza,
queria ter a coragem
de não sentir o que ainda sinto.
Eu não sei o que faço para não pensar em você,
ainda ouço a sua voz me chamando,
ainda sinto seu cheiro quando estou só.
Queria esquecer,
quero ter a coragem
de nunca mais dizer "te amo".
*****
Jaqueline Sobral
(Pernambuco)
Quero o fim
Cortaram-me a incerteza
dos dias já inexistentes.
Costuraram-me às vontades inúteis...
E onde estou?
Para aonde tudo isso irá me levar?
Quero o fim finito,
o logo, o rápido apressado,
quero o silêncio prometido.
Velas siluminam meu sorriso
já perdido.
Sobre o chão a fúria jovem
do impronunciável.
Por que eu ainda não sei o motivo de tudo isso?
*****
Mari Villar
(Rio de Janeiro)
O que me importa?
Me interesso pelo seu sorriso,
pelo seu olhar cabisbaixo,
quase triste.
Me interesso pela sua alegria
que se espalha solta
por toda a minha retina.
Me interesso pelos seus sonhos vazios
e cheios de fantasias.
Agora me pergunta sobre o que me interesso?
Me pergunta o que me importa?
Mas não pronuncie palabra alguma
me pergunte com o teu abraço
ou com aquele olhar
que somente eu sei o significado.
*****
Jair de Queriroz
(Santa Catarina)
Lágrimas
Amei menina!
E amar é como estar dentro de um turbilhão de sentimentos.
Amei. E tudo agora é passado.
Sim, é possível.
Foi uma história de nós dois.
Passou. Acabou.
E se por acaso
não a vivemos inteiramente
igualmente
sinceramente
deixo contigo minhas lágrimas
minha tristeza
minha vontade e chorar
meu carinho já esquecido.
Deixo contigo
minha vida póstuma.
*****
Bianca Saldanha
(Minas Gerais)
Vou-me
Vou-me como quem canta
sem saber a letra ou a melodia.
Vou-me como quem nunca amou na vida.
Sinto-me sempre assim:
querendo ir.
Amanhã te conto meu segredo
escondido debaixo dos meus pés
amanhã...
Pois tenho liberdade demais
preciso ir, sempre.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ano 5 . Nº 65 . Junho 2010

Júlia Kim
SOBRE A VERDADE ESCONDIDA

Sobre a verdade do nunca.
Do errado.
do surdo
p
o
e
m
a
.
Eu sou a metade do fim.
O medo coerente de Ser.
Sobre a verdade do possível.
Do inesperado.
do confuso
v
e
r
s
o
g
ó
t
i
c
o
.
*****

Suelen Romancini

As falácias se escondiam nos becos virtuais.
Excedeu-se em combustão
como uma bolha de ar em meio à água fervilhante.
o recipiente em vazio.
Despiu-se em açucares.
Amargamente andou, virou-se com um fluido.
O elixir voltou-se em si,
eram movimentos infames.
Descreveu-se, em momento de puras repartições triangulares.
Ora, as formas se desfaziam em soberbas lineares.
O conto permanecia, seu carma era conter-se.
As letras foram substituídas por abstrações.
Reflexo do autor, em instantes encadeia.
Uma complicação de histórias,
e em parco exercia o uso de texturas.
*****

Brenda Nurmi
AURORA

Um dia, fui abandonada pela felicidade.
Hoje quem me acompanha é a saudade
Dos tempos que não voltam nunca mais
Pra minha total falta de paz...
Como era doce os tempos de outrora
Em que me alegrava a cada aurora
A certeza de te ver
Satisfazia o meu viver...
Não me incomodava,
A pele sempre marcada
Tinha o coração sempre contente
Mesmo que sangrasse frequentemente
Te ver sorrir acalmava meu peito
Dor que hoje já não tem acalento...
Sei que estas a sofrer
E sofro junto por não ter o que fazer...
*****
Fábio Bresser
FALTA

Juro,
eloquente,
porém ainda vivo
que amei sem medida
que vivi sem moderação.
Onde quer que eu esteja agora
ao ler essas palavras confusas
eu estarei longe
debilitado de razão.
Estarei ausente de mim
por ter esquecido de pensar em nós.
Egoísta, falho, morto.
Estarei longe
debilitado de ti.
******

Carla DarKness
AINDA EXISTE AMANHÃ?

Dias claros e poéticos
sempre existirão.
E hoje?
Dia
(escuro)
silencioso
fúnebre.
Por ele
perdi a essência
a espera
pelo dia seguinte
Ainda existe amanhã?
Claridade?
(?)
Me acorda
quando
Ainda
não for
hoje.
*****

Vinícius Ruiz
EU
Poesia para não se despedir
versos rasgados de paixão
letras tingidas de decepções
mesmo assim sou eu
quem escrevo
quem vivo cada segundo
a mais
ou a menos.
Você que nem me ouvi
nem me ler
senti a pancada da palavra
dita?
Do instante gótico
corrompido
pelo falso poema lá fora?
Vivo! E viver é também morrer
todos os dias ou todos os segundos.
Poesia “dark” é toda poesia do inexistente,
Poesia gótica contemporânea:
sou eu (a cada segundo).
O lirismo está na entrelinha,
Ler. Enxerga. Tresler.

domingo, 2 de maio de 2010

Ano 5 . Nº 64 . Maio 2010

Nixy
INSTANTE

Sorrateira em volta de mim
Circula ameaçadora
a bolha cotidiana de sensações informes
Soando gongos e sinos
Desespero e Angústia tranquilos
marcando dias e horas
Observam a esperar
O abraço do Abismo enlaçar
A alma
pela tua Ausência atormentada.
Naquele dia me vi encontrar
no fundo dos teus olhos calmos
Um instante. Lampejo de paz
Um minuto de ordem universal
Qualquer riso infantil
pra sempre calor infernal
Voz grave puxando o Sol, detrás
das encostas invernadas, terras assombradas
onde jazia meu ser
E mãos fabricaram sorrisos
E os espalharam todos
Pelos caminhos meus
Sem você, então
O badalar soluçante
Silêncio. Sensação sufocante
Gongos e sinos
Ausência constante
Lágrimas. Desatino.
Sem você agora
A tempestade vindo.
Eu indo.


*****

Marcüs Bealmont
ALTER EGO

O olhar escurece, e o ímpeto violento ordena
Comanda com desejo e sangue que, és
Mas quando o ar clareia só fica a pena
Não valeu a pena, o remorso te amputa os pés
O demônio interior se mostra no espelho
E horrorizado você se esconde no arrependimento
Mas talvez seja tarde, a culpa te toma dos artelhos
Ate a cabeça, apagando você e seus sentimentos
Você então pega a arma e engatilha....
Poe na boca, no ouvido, na testa....
O click seco se segue de um estouro!!
O metal frio cai...
você engatinhaA bala na parede, zumbidos em festa
Viver é tua punição...desgraçado calouro...
*****

Aimée Lejeune
CAMINOS

Caminos opuestos de regreso otra vez
Lugares extremos que no conocía
Rompí todo otra vez
Todo lo que poseería
Lo lancé por las ventanas, se fueron,
Caminos extremos que sé que se fueron
El color de mi mar
Me colorea perfectamente.
Caminos extremos que me ayudan
Me ayudan tarde en la noche
Lugares extremos a los que he ido
Pero nunca he visto una luz
Sótanos sucios, ruidos sucios
Lugares sucios pasando,Mundos extremos solos
Te hicieron como lo planearon
Me pararía en la línea por esto
Siempre hay espacio en mi vida para esto.
*****

Juliana Amaral
QUANDO OS ANJOS NÃO CHORAM

Deus, por piedade, dá-me a mão
ergue os meus olhos
cheios de tristeza e insegurança
dá-me um pouco de calma.
Quando eu estiver sozinha
acompanha-me no pranto
na agonia de não saber o que fazer.
Deus, por piedade, dá-me um abraço
porque quando os anjos não choram
uma alma como a minha será feliz.
*****

[G.W.]
FÚRIA

Bastou um olhar,
uma agitação por dentro,
uma vontade de enlouquecer.
Bastou um instante
de ausência
para a vontade de jorrar silêncio surgir.
Bastou a certeza da negação
para a fúria tomar contar dos sentidos
e da mão trêmula
surgiu
o susto
o gesto
o grito
o olhar cabisbaixo
a lágrima derradeira
o fim.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ano 05 . Nº 63 . Abril 2010

Mozileide Neri
LACRADO

Há risos sobre a ferrugem
de um sonho,
Há vidros arranhados por gritos,
de dentro para fora de mim.
Me tornei o lacre do seu silêncio,
me tornei a sua dor interminável.
Hoje sou você à deriva do que ainda não tem nome.
Ainda ouço soluços trancafiados no porão,
sinto uma vontade de possuir liberdade [inexistente].
E foi tentando ser exata
que calculei errado a direção certa,
escolhi não ter mais razão
fechei os olhos,
abracei o vazio mais leve e escuro
e não me permitir mais existir.
*****


Brenda Nurmi
PERDOA

Perdoa,
Minhas mentiras sem fundamento,
Minhas palavras sem sentido,
Minhas inexplicáveis explicações...
Perdoa,
Por te magoar sem perceber,
Por ti iludir junto as minhas ilusões,
Por até duvidar de tuas próprias palavras...
Verdade é,
Que não sou digna se quer de teu perdão!
Te menti, te iludi, te enganei...
Sou vigarista, golpista, ordinária...
Eu sei que errei,
Sinto-me podre por dentro!
Com um peso enorme nas costas,
E não vejo saída!
Enfim choro,
Pelo desastre que causei,
Pelo perdão que não alcançarei,
Pelo desejo findo ao qual me eternizei...
*****


Marcüs Bealmont
IN ALBIS

Mar aberto para os sonhos, fantasias
Asas de imaginação transcendente
Histórias, contos, sonetos e poesia
Goticismo obscuro, romantismo transparente
Origamis de ideias, fertilidade
Couraça de rios e florestas
Sobrevoando o oceano da liberdade
Na queda infinita de estrelas em festa
Alimento da inspiração escondida
No recôndito suntuoso do meu ser
Quente como vulcão desperto
Quadro e tela a ser colorida
Sementes prontas de perfume e recender
Onde a exatidão divulga o incerto.
*****


Eviston C. D. Gomes
UM BANHO QUENTE

A água corre
Por meu corpo percorre
Minha pele reclama
Quente, calor e queima
Por fora, quente. Queimo.
Por dentro, frio. Queimo.
Exterior nada comparado ao interior.
Cada batida de duvida
Meu coração vai parando
A fera fria do arrependimento dilacera.
Minha mente.
Sorte seria a minha, se a água esquenta se meu interior,
como queima o esterno.
Mas a única coisa que poderia acalmar a fera ou reviver meu coração
Seria o perdão de uma única pessoa.
*****


Gabrielle Fonseca
Fúnebre lembrança

Nenhuma palavra pronunciarei
nenhuma imagem deve ser lembrada
nenhuma lágrima aproximará dos meus olhos
ao menos, desejo em devaneio,
ao menos que me digas que fora um sonho.
Ao menos que me digas que fora um engano.
Diz! Olha-me ainda sonolento,
balbucia alguma sílaba viva,
cancela meu desespero.
Diz que ainda estás comigo.
Fúnebre lembrança terei
se teus olhos não mais brilharem,
se teus lábios não mais ornamentarem um sorriso.
Ainda sangro por dentro,
saberei algum dia
viver sem a tua presença?
Ao menos nos meus sonhos
eu sei que sempre estarás.

*****


Suelen Romancini
DESFECHO

O palpitar do peito em suas abstrações suaves
Enrijeci minhas lamúrias neste alavancar de dilatações atemporais
Ele balbuciava o soneto em indolência
Ela por sua vez o ouvia em relutância, seus espasmos
Emanou por seu rosto a ponta dos dedos
E pelo obscuro dele ela era tão amante
Não por aquele corpo andante
Mas pelos desfiladeiros que aquela mente se opunha
A misericórdia desbotada assumia a argamassa
Bucólicos suspiros eternizavam o ar
Denotações de um personagem surreal emergiam pelas entrelinhas
O pecado decorrente em cada inusitado amargar
Demasiaram suas páginas em delgadas curvas
Cutucou o rosto sobressalente e febril
Inquietou em nuas insinuações
Deslaçou suas hemácias em sinuosos pulsares
Piedade em um corte carne à dentro
O poço mitigava a demência.

terça-feira, 2 de março de 2010

Ano 5 . Nº 62 . Março 2010

Marcüs Bealmont
PRIMA FACIE

Campos de fogo relampejam silentes
No começo da tarde de outono
Faíscas coloriam como repentes
O firmamento, o Criador e Seu trono
Tremularam bandeiras de cor celeste
Nas torres dos palácios de ametista
Jamim pelo ar, três sois ao leste
Tudo em teu olhar e essa vista
E na seda que escorreu em tuas costas
Entre cores rosadas e coradas
Dentro do arco-íris dos meus devaneios
Via como tatuagem meu nome entre as portas
Na flor de teus lábios também afloradas
Minha vida, minhas mãos...meus anseios...
*****
Mariano Borges
SOU UMA POESIA VIVA

Fragmentos soltos, desmontados.
Vontade de voar, de se desprender.
Vou colhendo dores,
sussurros alheios, desejos enferrujados.
Tento existir sem causar danos maiores
escrevo versos recheados de segredos.
Sou uma poesia viva
lapidada de acasos.
Sou seu passatempo,
sua menor lembrança,
seu silêncio constante.
Fragmentos soltos, desmontados.
Tento existir
sem causar danos maiores a você.

*****

Fernanda de Castro
FACES AMEDRONTADAS

Era terror
era o medo de si mesmo
era a outra face diante do espelho.
Éramos duas,
dois modos diferentes de Ser.
A máscara sobre a pele
sentimento que nunca fora pronunciado.
Ela desejava morrer,
mas a coragem fugia-lhe entre os dedos trêmulos
o recio escorria-lhe das mãos.
Era a minha vez de responder
de sobreviver ao tumulto interno.
Éramos faces amedrontadas
em um único instante de tempo.
Éramos dois modos diferentes de viver.
*****
Aimée Lejeune
YO Y NADIE

No más gritos
No más temores
Justo todo lo que me hace llorar
¿Quiere que su comodidad
Su mano abierta
Su abrazo que me saluda
¿Quieres venir esta noche?
Y la muerte está aquí
en busca de un espacio vacío en mí.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ano 5 . Nº 61 . Fevereiro 2010

Juliana Amaral
TÉDIO

Sobre brasas de amargura,
sobre navalhas não mais afiadas,
eu, somente eu, me submeto ao tédio.
Revestia inutilmente meus dias com alegrias contidas de ontem,
costurava silêncio sobre os lábios.
Tentava ser uma teia de ilusão,
queria ser um instante de qualquer lembrança.
Sobre amores inúteis,
sobre poesias velhas,
eu, somente eu, me submetia ao tédio.
Dançava fora do ritmo,
sorria sem vontade,
chorava por distração.
Sobre mãos rígidas,
sobre olhos avermelhados,
eu, somente eu, me escondia do tédio diário.
*****

Suelen Romancini
LAPSO

Ela estava seca, o corpo gelado.
O que havia de sangue esvaeceu.
Eram pupilas escuras, seus olhos.
Enraizou as unhas entre a carne esperada.
De lábios desérticos, roupas em águas.
O contorno do queixo movia por sobre as extremidades dos ombros.
Braços firmes e pernas enlaçadas.
Desprendia-se em suor.
A ordem dos fios se ia, misturava e eclodia.
O cheiro lhe ardia os sentidos e confundia suas regras ou razões.
Morriam seus limites eles desciam por suas vertentes.
*****

Tânia Bueno Rocha
ALGOZ

Medos e verdades escondidas,
no profundo de cada olhar.
Ao notar que poderão ser despidas,
mais ainda se fazem ocultar.

Medos e forças estranhas,
que nunca se poderão confessar.
Em busca de uma felicidade tamanha,
colocam-se na alma dançar.

Como um algoz tortura sua presa,
o medo e a solidão.
Aprisionam a sociedade indefesa,
que se escondem a baixo do chão.

E pra onde se pode fugir,
se o carrasco está em todo lugar.
Verdades ainda vão persistir,
em perigos nos acorrentar.

Medos e verdades obscuras,
que os olhos mortais não verão.
Sinceramente procuram,
refúgios da solidão.
E quanto mais tudo muda,
o medo ainda está.
Dentro da alma mais pura.
E seu espírito a dominar.

Como poso então me livrar,
do medo que se apoderou?
Das minhas palavras ao ar,
que ninguém jamais escutou.
*****

Marcüs Beaulmont
RATIO ESSENDI
Do horizonte lilás de imaginação
Floresceu uma revoada de sonhos
Devaneios inquietos e tristonhos
De saudade esquecida da paixão
Como montanha imóvel aguarda
Plantada na memória.. imóvel e só
Esse grito quer desfazer um nó
Que na garganta jaz e resguarda
Existe, creio eu, motivo plausível
Para existência tal de sentimentos
Além desse inominável momento
Talvez a espera do impossível
Dentro do peito resgatado esteja
O sonho que ao amor corteja
*****

Brenda Nurmi
LÁGRIMAS MÓRBIDAS

Na janela há alguém olhando para a lua,
Lágrimas mórbidas em um anoitecer cinzento...
Sorrisos falsos, tentando esconder a tristeza.
Um único ser solitário, que grita em silêncio.
Na noite fria e sem vida,
Quando todos já adormecem...
Lembranças que vem e que vão,
Saudade que chama e o peito que chora...
O coração sofre calado...
Luzes iluminam a estrada,
Os carros passam correndo...
As esperanças se perderam,
Só lhe resta o sofrimento...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ano 5 . Nº 60 . Janeiro 2010

FACETAS
Suelen Romancini

Irei afagar suas veias quentes.
Emaranhar seu sussurro inverso.
Dar-lhe o sopro ao vento de vertigens.
Correrei com meus dedos pela fina superfície de sua derme,
fria e desconcertante.
Recitarei o silêncio no caos de sua mente montanhosa.
Jogando o talvez em seus cantos escuros.
condensando teu corpo em condenadas sinfonias.
Maestro, tão somente polido teu lampejar.
Nas camadas mal distribuídas de minhas facetas,
o grito entorpecente.
Incômodo restringido ao vão buraco.
Depreciou pelo tempo suas histórias.
Os vales se tornaram cinza e carnificina.
A torrente de gelo se desfez.
Compelido o perolado em fosco marfim.
A nudez de seus vestígios, memórias tão bem conservadas.
Ossos quebrados se indo ao movimento do rio.
O oceano em sua solidão insanamente preenchido de sons azuis.
E o vácuo! Inundei-me e me desfiz na imensidão de palavras tão soltas.
Eram os restos que aninhava desesperadamente.
Era o diálogo mudo e a falta do início compreensível, mas lastimável.
*****

ESVAIR
Pedro H. Florêncio

É quando tudo em que acreditamos se esvai
Nossas crenças são levadas à extinção
Toda a energia de nosso corpo sai
E a raiva da mente foge da prisão
É quando tudo o que fazemos falha
E não há um suporte para nos amparar
Tudo em que apostamos fora só fogo de palha
E é muito triste ver tudo isso terminar
É quando nada do que temos tem valor
Quando perdemos a graça de falar, ler
Quando tudo que nos resta é apenas dor
É quando perdemos até a vontade de viver.
*****

'' CONFISSÃO”
Brenda Nurmi

Talvez eu seja a verdadeira escuridão,
Trazendo a dor e a agonia para o meu mundo...
Debulhando-me em lágrimas,
Sofrendo nas profundezas de minha alma
Vivendo minha triste e pura solidão...
Eu escolhi este destino,
Eu acreditei no mais lindo sonho que já sonhei,
Foi tudo tão sublime, tão perfeito,
Foram tantas esperanças, tantas vontades ainda não saciadas...
A ilusão me dominou e eu se quer percebi...
Onde esta você?
Por que sempre te vejo tão longe de mim?
O que realmente quer me dizer quando olha em meus olhos?
Pra onde anseias me levar?
Qual é o teu desejo?...
Se eu ao menos fosse digna de resposta...
Se meu alvo recusasse a se calar...
Eis que tenho uma força repentina
Uma luz que vem, me ilumina e some.
Deixando apenas a cede de não mais viver em um mundo de sombras...
Mundo, mundo,
Vasto mundo.
Um dia me disseram o tamanho de tua vastidão
E na estupidez de uma vida quase perfeita, ignorei...
Você me da algo que eu não tinha,
Mas de que serve sem a certeza?
Meu coração está preso novamente
É real a dor que sinto
Eu confio e confesso...
Não sei o que é, mas posso jurar que é real...
*****

SINE DIE
Marcüs Beaulmont

Sem dia, hora, momento exato
Encontrarás a flor, o cravo intacto
Assim como resto de terra de impacto
Não me verás como relato
Como um maestro tocando piano na chuva
Lendo pautas afogadas em lágrimas
Sentindo as cordas soarem já turvas
E o metal desafinar nas secas paginas
Como cavaleiro que salta do penhasco
Montado em seu cavalo sem medo
Buscando no sacrifício sua redenção
Como o mago dos dias vê seu fiasco
Quando seus bonecos de vudu revelam segredos
Quebrando algemas para amar sem restrição.