Mozileide Neri
LACRADO
LACRADO
Há risos sobre a ferrugem
de um sonho,
Há vidros arranhados por gritos,
de dentro para fora de mim.
Me tornei o lacre do seu silêncio,
me tornei a sua dor interminável.
Hoje sou você à deriva do que ainda não tem nome.
Ainda ouço soluços trancafiados no porão,
sinto uma vontade de possuir liberdade [inexistente].
E foi tentando ser exata
que calculei errado a direção certa,
escolhi não ter mais razão
fechei os olhos,
abracei o vazio mais leve e escuro
e não me permitir mais existir.
*****
Brenda Nurmi
PERDOA
Brenda Nurmi
PERDOA
Perdoa,
Minhas mentiras sem fundamento,
Minhas palavras sem sentido,
Minhas inexplicáveis explicações...
Perdoa,
Por te magoar sem perceber,
Por ti iludir junto as minhas ilusões,
Por até duvidar de tuas próprias palavras...
Verdade é,
Que não sou digna se quer de teu perdão!
Te menti, te iludi, te enganei...
Sou vigarista, golpista, ordinária...
Eu sei que errei,
Sinto-me podre por dentro!
Com um peso enorme nas costas,
E não vejo saída!
Enfim choro,
Pelo desastre que causei,
Pelo perdão que não alcançarei,
Pelo desejo findo ao qual me eternizei...
*****
Marcüs Bealmont
IN ALBIS
Marcüs Bealmont
IN ALBIS
Mar aberto para os sonhos, fantasias
Asas de imaginação transcendente
Histórias, contos, sonetos e poesia
Goticismo obscuro, romantismo transparente
Origamis de ideias, fertilidade
Couraça de rios e florestas
Sobrevoando o oceano da liberdade
Na queda infinita de estrelas em festa
Alimento da inspiração escondida
No recôndito suntuoso do meu ser
Quente como vulcão desperto
Quadro e tela a ser colorida
Sementes prontas de perfume e recender
Onde a exatidão divulga o incerto.
*****
Eviston C. D. Gomes
UM BANHO QUENTE
A água corre
Por meu corpo percorre
Minha pele reclama
Quente, calor e queima
Por fora, quente. Queimo.
Por dentro, frio. Queimo.
Exterior nada comparado ao interior.
Cada batida de duvida
Meu coração vai parando
A fera fria do arrependimento dilacera.
Minha mente.
Sorte seria a minha, se a água esquenta se meu interior,
como queima o esterno.
Mas a única coisa que poderia acalmar a fera ou reviver meu coração
Seria o perdão de uma única pessoa.
*****
Gabrielle Fonseca
Fúnebre lembrança
Nenhuma palavra pronunciarei
nenhuma imagem deve ser lembrada
nenhuma lágrima aproximará dos meus olhos
ao menos, desejo em devaneio,
ao menos que me digas que fora um sonho.
Ao menos que me digas que fora um engano.
Diz! Olha-me ainda sonolento,
balbucia alguma sílaba viva,
cancela meu desespero.
Diz que ainda estás comigo.
Fúnebre lembrança terei
se teus olhos não mais brilharem,
se teus lábios não mais ornamentarem um sorriso.
Ainda sangro por dentro,
saberei algum dia
viver sem a tua presença?
Ao menos nos meus sonhos
eu sei que sempre estarás.
*****
Suelen Romancini
DESFECHO
O palpitar do peito em suas abstrações suaves
Enrijeci minhas lamúrias neste alavancar de dilatações atemporais
Ele balbuciava o soneto em indolência
Ela por sua vez o ouvia em relutância, seus espasmos
Emanou por seu rosto a ponta dos dedos
E pelo obscuro dele ela era tão amante
Não por aquele corpo andante
Mas pelos desfiladeiros que aquela mente se opunha
A misericórdia desbotada assumia a argamassa
Bucólicos suspiros eternizavam o ar
Denotações de um personagem surreal emergiam pelas entrelinhas
O pecado decorrente em cada inusitado amargar
Demasiaram suas páginas em delgadas curvas
Cutucou o rosto sobressalente e febril
Inquietou em nuas insinuações
Deslaçou suas hemácias em sinuosos pulsares
Piedade em um corte carne à dentro
O poço mitigava a demência.