Silêncios profundos
Juliana Amaral
Angustio-me
não me chamo
mas descarrego devaneios,
sonhos,
medos,
poesias,
silêncios profundos.
Tenho a poesia
arrancada da pele
tenho navalha no verso.
Como posso então
atingir o visível
se tenho a liberdade
presa a labirintos?
Como se movesse do nada
para atingir
silêncios em mim
eu abro a pele
para libertar poesias.
Angustio-me
não me contenho
escrevo gritos,
delírios,
lágrimas
por debaixo da pele.
Versos antropológicos
Sed_dark
Minha poesia é como uma vértebra humana
E se eu versejar
ou deteriorar a poética
perdoem-me.
Minhas estrofes estão encharcadas de sangue
porque minha alma não aceita cicatrizes,
por amor
por amar demasiadamente.
Recuso-me a escrever sobre ela,
recuso-me a manchar meus versos de saudade,
uma saudade que me causaria suicídio;
que me causa desespero.
Minha sombra não tem métrica
não tem forma
só tem sonhos
que não ouso lapidar
porque tenho medo de pôr sobre a minha alma
pedaços de fantasia,
mas a tua ausência
os farão apodrecer
como as perfurações que tenho na alma.
Melancolia
Emily Martin
Enterro no infinito
Palavras defuntas de amor.
Vazo a verdade
Vinda de perto
Trazendo consigo
Prelúdios de dores terríveis.
Meus olhos transbordam melancolia,
Trazem de volta o sofrimento perdido.
Cravo na água meus devaneios
solto-me da janela
Jogando fora meu silêncio,
Meu vazio,
E meus segredos.
Solidão
Shekinah Silva
Miragens rústicas
Solidão rasgada
Vida submersa por gritos sombrios.
Passos à noite
Caminhando para o infinito
Onde só há sonhos falecidos.
Solidão pisada
Por pés cansados de viver
Sempre no mesmo dia
Na mesma noite.
Solidão manchada
Por lágrimas intermináveis
Por medos que nunca vão embora.
Corrimão
Charlote Bentancur
Desço degraus
Com os pés vendados
Desço degraus
Sem saber o que encontrarei no final
Desço degraus
De uma escada móvel
Desço degraus
Segurando o corrimão
Desço degraus
Deixando um rastro de sangue
Desço
Apenas
Sem saber subir
Sem saber voltar
Desço degraus
Para corrigir um erro
Para resgatar minha alma
Que deixei flutuando
Dentro de pequeníssimos soluços
Fosforescentes.
Sóis
Waislin
Eu vou pegar esses lençóis
Pra colocar nesses anzóis
Essa saudade de girassóis
Vi mil repletos sóis
A galáxia, a poeira
Tudo em volta de nós
Agüento as estrelas
O rei dos sóis
Estava lá flutuando
Na gravidade sem quimera
Apenas em fase mera
A terra com girassóis
Cheirosos como meles
Ficando agudo neles
Nos planetas cada qual
Com seus segredos
Enquanto eu honro
Cultuo meu sol....
Elara (soneto 3)
Marcüs Beaulmont
A colina das cruzes distorcidas
Era fria sob nevasca de inverno
Obtusa e atordoante como se do inferno
Fosse prólogo e ante sala esquecida
Seus olhos percorriam lacrimosos
E descansaram no tumulo cinzento
Do seu anjo falecido, e seu esquecimento
Reavivara o ódio pelos deuses formosos
Inflamara suas asas ufanas
Talhando seus pulsos, como desafio,
Com pedaços de metal sem fio
Proferiu suas orações profanas
Ajoelhada, mente em desvario
Nua e sedenta, com sangue frio...
Concerto
Ni [Morten]
Dedilhar calmo e preciso.
As teclas do piano desatando
da Ilusão as cordas
A noite sôfrega caindo
no silêncio entre as notas
Entrelaçando sonhos
a corriqueiros pensamentos
Desfilando imponente vai à musa solitária,
Imaginários corredores e passagens
a conduzir a estranha ouvinte
à câmara das lúdicas cores, sons, sabores...
Onde a beleza se aprimora, e séria descortina
sua presença excêntrica, camuflada na rotina
Onde o que é nosso está contido
sonoro espelho refletindo... máscaras
prazer e dor tão escondidos.
Ouça Deusa!... Os sentimentos tão humanos!
- a teus encantos tão sujeitos -
Que nos faz plenos ou insanos
Ser instrumentos imperfeitos: ensaios rudes
da perfeição imaginada
A nós, Senhora, trazes
o cântaro de alívios e segredos..
Que és Música?
Senão do Tédio o algoz horrendo
O bálsamo inigualável do Tormento.
Estrela abissal, afugentando Medos!
Ao que não se pode nominar
Karla Oldane
A alma aflita
corre
paira
fita
Com o peso no peito
dor
pecado
despeito
Incomoda a carne
queima
arde
arte
De uma forma inominável
inteligível
intransigente
intragável.
Desprenderse
Celso Piñón
Tú ya no eres el mismo que fuiste hace dos días,
Hace tres meses, hace un año.
Por lo tanto, no hay nada a qué volver.
Cierra la puerta, da vuelta a la hoja, cierra el círculo.
Ni tú serás el mismo, ni el entorno al que regresas será igual,
Porque en la vida nada se queda quieto, nada es estático.
Es salud mental, amor por ti mismo,
Desprender lo que ya no está en tu vida.
Recuerda que nada ni nadie es indispensable.
Ni una persona, ni un lugar, ni un trabajo.
Nada es vital para vivir
porque cuando tú viniste a este mundo,
Llegaste sin ese adhesivo.
Por lo tanto, es costumbre vivir pegado a él,
Y es un trabajo personal aprender a vivir sin él,
Sin el adhesivo humano o físico que hoy te duele dejar ir.
Es un proceso de aprender a desprenderse y,
Humanamente se puede lograr, porque te repito:
Nada ni nadie nos es indispensable.
Sólo es costumbre, apego, necesidad.
Pero cierra, clausura, limpia, tira, oxigena,
Despréndete, sacúdete, suéltate.
Hay muchas palabras para significar salud mental y cualquiera
Que sea la que escojas,
Te ayudará definitivamente a seguir para adelante con tranquilidad.
¡Esa es la vida!
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