sábado, 12 de setembro de 2009

Ano 4 . Nº 56 . Setembro 2009 - Edição Especial: Álvares de Azevedo




O Poeta



Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 12 de setembro de 1831 — Rio de Janeiro, 25 de abril de 1852) foi um escritor da segunda geração romântica (Ultra Romântica, Byroniana ou Mal do Século), contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro. Filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Mota Azevedo passou a infância no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos. Voltou a São Paulo (1847) para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde desde logo ganhou fama por brilhantes e precoces produções literárias. Destaca-se pela facilidade de aprender línguas e pelo espírito jovial e sentimental. Durante o curso de direito, traduz o quinto ato de Otelo, de Shakespeare; traduz Parisina, de Lord

Byron; funda a revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano (1849); faz parte da Sociedade Epicuréia; inicia o poema épico O Conde Lopo, do qual só restaram fragmentos. A sua obra compreende: Poesias diversas, Poema do Frade, o drama Macário, o romance O Livro de Fra Gondicário, Noite na Taverna, Cartas, vários Ensaios (Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla), e a sua principal obra Lira dos vinte anos (inicialmente planejada para ser publicada num projeto – As três Liras – em conjunto com Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães). É patrono da cadeira número dois da Academia Brasileira de Letras.





Poesias



Vi


No outro dia, na borda do caminho
Deitado ao pé de um fosso aberto apenas,
Viu-se um mancebo loiro que morria...
Semblante feminil, e formas débeis,
Mas nos palores da espaçosa fronte
Uma sombria dor cavara sulcos.
Corria sobre os lábios alvacentos
Uma leve umidez, um ló d'escuma,
E seus dentes a raiva constringira...
Tinha os punhos cerrados... Sobre o peito
Acharam letras de uma língua estranha...
E um vidro sem licor... fora veneno!...

Ninguém o conheceu; mas conta o povo
Que, ao lançá-lo no túmulo, o coveiro
Quis roubar-lhe o gibão - despiu o moço...
E viu... talvez é falso... níveos seios...
Um corpo de mulher de formas puras...

Na tumba dormem os mistérios de ambos;
Da morte o negro véu não há erguê-lo!
Romance obscuro de paixões ignotas
Poema d'esperança e desventura,
Quando a aurora mais bela os encantava,
Talvez rompeu-se no sepulcro deles!
Não pode o bardo revelar segredos
Que levaram ao céu as ternas sombras;
Desfolha apenas nessas frontes puras
Da extrema inspiração as flores murchas...



Soneto


Os QUINZE ANOS de uma alma transparente,

o cabelo castanho, a face pura,

uns olhos onde pinta-se a candura

de um coração que dorme, inda inocente.


Um seio que estremece de repente

do mimoso vestido na brancura,

a linda mão na mágica cintura,

e uma voz que inebria docemente.


Um sorrir tão angélico! Tão santo!

e nos olhos azuis cheios de vida

Lânguido véu de involuntário pranto!


É esse o talismã, é essa a Armida,

o condão de meus últimos encantos,

a visão de minha alma distraída!

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